Criada para servir como um complemento ao carro, a Honda NCZ 50 Motocompo foi uma solução que não emplacou em sua época, mas seu conceito tem feito cada vez mais sentido.
Texto: André Ramos Fotos: Divulgação
No início da saudosa década de 80, a economia japonesa era uma locomotiva que não parava de acelerar e graças à esta pujança, o país começava a enfrentar problemas de congestionamentos em suas grandes e populosas cidades.
Para tentar contribuir com a solução do problema, a Honda pensou em uma criativa solução: produzir um carro cujo porta-malas fosse projetado para caber uma scooter dobrável. Assim surgiram o City, um compacto hatch back muito diferente do sedan que conhecemos, e a NCZ 50 Motocompo, que se encaixava perfeitamente no espaço atrás do banco traseiro.
Ideia brtilhante, mas…
A ideia era a seguinte: de manhã, o motorista iria para o seu trabalho dirigindo e ao chegar próximo da região central, ele estacionaria o carro, montaria a scooter e iria com ela até o trabalho, repetindo o ritual ao final do expediente. A ideia parecia boa mas na prática, não foi bem isso que aconteceu.
A fabricação da Motocompo aconteceu entre 1981 e 1983 e diante da solução que ela oferecia, a Honda estimou que venderia aproximadamente 10 mil unidades por mês, mas quando a produção parou, havia vendido pouco mais de 50 mil. No papel, a Motocompo foi um fracasso, mas nem tudo estava perdido.
Hoje, a pequena scooter tornou-se uma cult bike e agora, ávidos colecionadores não se importam de pagar até US$ 10 mil por uma unidade em bom estado.
Conceito bélico
O conceito de scooter dobrável não era uma coisa nova quando a Motocompo foi introduzida; elas já existiam há décadas e talvez a mais famosa tenha sido a Welbike britânica da 2ª Guerra Mundial, uma scooter dobrável projetada para ser lançada ao ar por para-quedas, para que os soldados tivessem um meio de transporte motorizado no solo.
A Motocompo foi projetada para atender a um nicho totalmente diferente. Os engenheiros da Honda sabiam que a moto tinha que ser o mais leve possível, então eles a desenvolveram em torno do pequeno motor monocilíndrico e dois tempos de 49 cc usado em várias outras scooters Honda. Para simplificar, a NCZ 50 Motocompo trazia uma transmissão de uma velocidade com embreagem automática e produzia 2,5 cv a 5.000 rpm e 0,38 kgf.m de torque a 4.500 rpm, o que a fazia chegar apenas a 30 km/h).
Para usá-la, bastava abrir a tampa superior e desdobrar o guidão; o assento era levantado e as pedaleiras desdobradas. Para reduzir peso não havia partida elétrica: apenas o pedal de partida. Ela possuía todas as luzes exigidas legalmente, incluindo farol, setas e luz de freio. Os freios eram a tambor e havia suspensões rudimentares.
Mas tirar do porta-malas um objeto de 45 kg todas as manhãs, montá-lo e repetir a operação ao final do dia quando ela estava quente – e todos os dias – foi o que decretou o ocaso da Motocompo. Isso, combinado com a velocidade máxima relativamente baixa e o fato de chegar cheirando a óleo dois tempos no trabalho, contribuiu para que a marca encerrasse sua produção.
Em muitos aspectos, a Honda NCZ 50 Motocompo estava à frente de seu tempo, e hoje, quando discute-se tanto o conceito de deslocamento da última milha e os veículos elétricos, certamente ela se apresentaria como um case de potencial sucesso. Em 2011, a Honda chegou a apresentar um protótipo elétrico, batizado de “Motor Compo”, entretanto, passados 10 anos, não se animou a tirá-lo do papel.