Os integrantes do MC Eu, Gata e Fiel, Moto Clube da cidade de Macaé, no Rio de Janeiro, decidiram se aventurar pelas terras do Marrocos. Lá, eles encararam, estradas sinuosas, diversas curvas e belezas encantadoras. No total foram 16 dias de passeio e 14 motos rodando, todas da BMW. Confira a primeira parte do relato agora, em Moto Adventure

TEXTO E FOTOS: PAULO GOMIDE

“A felicidade não está no fim da jornada, e sim em cada curva do caminho que percorremos para encontrá-la”. A frase é de Marta Suplicy, mas se encaixa perfeitamente nesta saga. O Marrocos é um país árabe situado na porção Norte do continente africano, na região da África Setentrional. Sua área territorial é de 446.500 km², onde habitam quase 33 milhões de pessoas. O sistema político é o monárquico, liderado pelo atual rei Mohamed VI. Assim como os demais países árabes do norte da África, o Marrocos também foi atingido por aquilo que se conheceu por Primavera Árabe, uma onda de protestos e revoluções que marcou a maior parte dos países da região a partir do ano de 2011. O roteiro foi bastante complexo, e fez com que a adaptação do nosso grupo fosse maior do que o esperado. Além de nossos componentes, amigos do MC Tubarões do Asfalto de Cabo Frio, Moto Grupo V2 e Moto Clube Bodes do Asfalto de Macaé também aderiram ao passeio, resultando na locação de 14 motos, sendo 13 BMW GS 1200 ADV e uma BMW GS 800, além de 6 automóveis BMW e um Jeep. A aventura começou em Lisboa, Portugal, onde as motos já nos aguardavam no pátio do Marriott Hotel, locadas junto à BOMCAR (https://www.bomcar.pt/).

1º dia – Lisboa: Após a recepção, almoçamos próximo ao hotel e à noite fomos recepcionados na Casa do Bacalhau, restaurante tradicional e famoso da região. No cardápio as famosas pataniscas de bacalhau, além de uma variedade de pratos de bacalhau e tradicionais vinhos portugueses. Começava ali nossa aventura motociclística, etílica e gastronômica.

2º dia – Lisboa / Évora / Sevilha: O primeiro dia com as motos já foi conturbado. Partida marcada para as 8h e nosso guia, Miguel Bernardo, foi atropelado quando se dirigia ao hotel. Deixamos Lisboa somente após as 11h30, seguindo pela Ponte Vasco da Gama em direção à Évora para o almoço e um city tour. Évora fica no Alentejo e é uma cidade medieval muito bem conservada, e tem como destaque o templo Romano de Diana. Para nosso azar, ele encontrava-se em reforma, porém ainda assim o passeio foi bem proveitoso. Como consequência de nosso atraso, chegamos em Sevilha tarde e estávamos com reservas no El Pátio Sevillano. Lá se realiza um espetáculo com uma visão fascinante do folclore andaluz e da sua cultura, principalmente com música flamenca e sapateado.

3º dia – Sevilha / Tarifa / Tanger: Pela manhã, um tour pela belíssima cidade de Sevilha. Centro financeiro e capital da Andaluzia, no sul da Espanha, Sevilha é grandiosa e histórica. Fenícios, gregos, romanos e árabes já viveram na região, atraídos por suas riquezas minerais e terras férteis às margens do rio Guadalquivir, de onde Cristóvão Colombo partiu para a América e que hoje corta a metrópole moderna. Apesar do agito, Sevilha mantém atmosfera interiorana, com centro antigo, praças, ruelas, vilas e arquitetura de época. Além da beleza, a cidade representa bem o espírito festivo espanhol. Às 13h partimos para Tarifa, uma cidade e sede de município da Espanha na província espanhola de Cádis, comunidade autónoma da Andaluzia. Em Tarifa fica a Punta de Tarifa ou Ilha de las Palomas, o ponto mais meridional da Europa continental. Fortes ventos vindos do Atlântico atraem surfistas, praticantes de windsurf e kite, que dão a esta antiga cidade uma imagem internacional e descontraída. A cidade foi a última parada na Espanha antes de Marrocos. Em nossa chegada à Tarifa, o amigo Mauro sentiu muita dificuldade com os ventos, principalmente por estar com uma moto bem maior que a sua. Na estrada ele reduziu a velocidade após levar uma rajada de vento em uma curva e eu o acompanhei até que chegássemos ao destino.

A maior dificuldade seria a entrada dos veículos em Tanger. Processo bastante burocrático, onde um despachante ajudou nos procedimentos. Preenchemos uma “Declaração de Admissão Temporária no Marrocos” do veículo, documento mais importante para transitar e posterior saída do país. Nem pensem em perdê-lo. Enquanto isso, policiais levavam cães farejadores e um deles acabou mordendo o banco da moto do Ricardo, causando um prejuízo de 270 euros. Toda essa burocracia demorou aproximadamente 1h30. Tanger, como todas as grandes cidades Marroquinas, possui algumas características:

1 – Cidades muito organizadas, bem cuidadas e com bela arquitetura;

2 – Apesar de estar recebendo muitos turistas, os serviços são muito ruins. Falta de toalhas em banheiros, bebidas sem gelo, deficiência geral no atendimento. Então, procure não se aborrecer por esses detalhes e aproveite suas belezas.

4º dia – Tanger / Rabat / Casablanca: Neste dia, tivemos o reforço de Hassan como guia, um marroquino que já trabalha no turismo há 27 anos. Iria ser de grande valia, principalmente pela dificuldade da língua, pois no interior raramente se falava outro idioma além do francês e árabe. Direção Casablanca: após rodar 45 km chegamos à cidade de Asilah.  No passado foi a cidade portuguesa de Arzila, conquistada em 1.471 durante o reinado de Afonso V. Para a defender, foi construída uma praça-forte, que depois viria a ser ampliada e reforçada a partir de 1.509, com cerca amuralhada do seu porto. Os objetivos para Arzila foram atingidos em poucos anos: torná-la um entreposto comercial e estratégico essencial na rota do ouro do Saara. Seguimos viagem então para a cidade de Rabah, capital burocrática do reino. Rabat é também uma das Cidades Imperiais, com o seu centro histórico classificado como Patrimônio da Humanidade, conjugando a sua modernidade com o desenvolvimento e construção de infraestruturas e acessibilidades.

Visitamos os exteriores do Palácio Real (Residência Oficial do Rei do Marrocos) e as ruínas de Chellah, um sítio arqueológico onde se encontram ruínas da cidade romana de Sala Colónia e uma necrópole medieval merínida, situado nos subúrbios de Rabat. É o assentamento humano mais antigo que se conhece na área de Rabat e Salé. Depois seguimos em direção à Casablanca. O trecho de chegada lembra muito a Avenida Brasil, no Rio de Janeiro. Muito comprido, com prédios em seu entorno e leva-se uma eternidade para chegar ao centro da cidade. Chegamos na hora do “rush” e o engarrafamento era caótico. Nosso hotel, o Casablanca Le Lido Thalasso & Spa ficava situado à beira da praia e ali notamos uma característica de grande parte do litoral marroquino: uma espessa neblina cobre o céu do litoral atlântico, sobretudo durante o período da manhã, levantando-se ao início da tarde. Em grande parte da viagem observamos essa situação.

5º dia – Casablanca / Essaouira: Casablanca é a maior cidade do Marrocos, tem cerca de 5,5 milhões de habitantes e é o maior porto e centro industrial e comercial do país. Apesar disso, a cidade é mais conhecida pelo clássico do cinema, o filme “Casablanca”, que por curiosidade sequer foi gravado lá, saiu direto dos estúdios de Hollywood, mas conta a história de um romance acontecido em meio à segunda guerra mundial, quando a cidade foi um ponto estratégico de tráfego para entrada na Europa e palco de uma conferência entre o presidente norte-americano Roosevelt e o primeiro ministro britânico Churchill. Pela manhã, passeio a belíssima Mesquita Hassan II, o mais alto templo religioso do mundo, e o segundo maior (perdendo apenas para a mesquita de Meca). Essa é uma das poucas mesquitas do mundo muçulmano que permite a visita de turistas não muçulmanos (embora existam algumas áreas que só podem ser pisadas por eles). Partimos então para a estrada costeira, visitando a cidade de El Jadida, local onde fica a antiga Fortaleza de Marzagão, que foi fundada em 1.541, e é considerada patrimônio da Humanidade pela UNESCO desde 2.004. De todas as fortalezas que os portugueses edificaram em Marrocos, esta é a que está em melhor estado de conservação. Continuamos em direção a Qualidia. Já à noite chegamos a Essaouira, a pérola da costa Atlântica e nos hospedamos no Atlas Essaouira.

Curiosidade: Pelo caminho, a seca intensa trazia uma cena inusitada. Os cabritos, em busca de alimentos, acabavam subindo nas pequenas árvores e seus proprietários utilizavam desse subterfúgio para cobrar quando turistas paravam nas estradas para tirar fotos. Povo criativo…

6º dia – Essaouira / Marakech: Nesse dia o trecho de viagem seria curto, 183km apenas nos afastavam de Marrakech. Com incontáveis monumentos considerados patrimônios da humanidade, está entre os melhores destinos de viagens do mundo. Chegamos em nosso hotel, almoçamos e saímos para conhecer seus encantos. Depois, partimos para o Praça de Jemma El Fna, próximo a Medina, onde mercadores oferecem de tudo: óleos de argan, pashminas, pintura de hena nas mãos, prataria, vasos de cerâmica, vestuários típicos, bolsas, quadros e tudo mais o que se possa imaginar. Eles disputam sua atenção, no incansável objetivo de vender algo para você. O mais interessante é que os preços culturalmente são negociáveis e realizado apenas por homens, com exceção da pintura de hena, feita exclusivamente por mulheres.  Saltimbancos, encantadores de serpente, todos visam faturar um trocado.

7º dia – Marakech / Zagora: Nesse dia o trecho seria mais pesado, pois para dormir duas noites no deserto, dobramos o caminho, além de enfrentar o Alto Atlas, que é a maior cordilheira do Norte de África. Estende-se por cerca de 2400km e atravessa Marrocos, a Argélia e a Tunísia. O ponto mais alto ultrapassa os 4000 metros. A cordilheira, ao atravessar Marrocos, separa o oceano do deserto, a zona mais rica da mais pobre. A própria paisagem e vegetação são reflexo desta dicotomia. Esse foi um dia de muitas dificuldades. Ao iniciar a subida do Atlas, começou a chover e, como viajo com o casaco de verão, atrapalhou um pouco. Nessas montanhas, diversas paradas onde tratores retiravam grandes pedras que tinham rolado com as chuvas. Chegamos então à parte mais alta da montanha, que lembrava demais os Andes Peruanos. Ficamos eufóricos pelo visual, uma beleza rara. No caminho ainda passaríamos por Quarzazate, que fica a cerca de 200 km de Marraquesh. Passando pelo maior Oásis do Marrocos, à tardinha chegávamos a Zagora, conhecida como cidade dos homens azuis – Tuaregues.

8º dia – Zagora / Merzouga: Dedicamos essa data ao Deserto do Saara. Já perto de Agdz, é impressionante sair da montanha e ver o primeiro dos oásis do Vale do Draa, com milhares de palmeiras que contribuem para que esta seja a região das tâmaras. Chegamos e tudo o que vemos são dunas moldadas pelo vento. Além do calor, o terreno e as motos pesadas (BMW GS 1200 ADV, com 3 bauletos e garupas), aumentavam ainda mais a dificuldade no trajeto.

9º dia – Merzouga / Erfoud: As evidências fósseis mais antigas de representantes da espécie humana foram descobertas por cientistas no Marrocos e revelam que o Homo Sapiens já se espalhava por toda a África há 300 mil anos. A descoberta histórica, aumenta em pelo menos 100 mil anos a existência comprovada de vida na Terra. Marrocos é conhecido mundialmente pela grande quantidade de fósseis, tanto na variedade, quanto na quantidade. Então, antes de nosso destino nesse dia, visitamos em Erfoud uma grande loja de venda de fósseis e muita coisa de arqueologia. Ali, uma das meninas teve desidratação, ocasionada pelas comidas picantes e o intenso calor. Logo, chegamos ao outro lado das dunas de Merzouga, onde fica localizado acampamento que permite ao viajante pernoitar no deserto. Chegávamos então às Bivouac. Dormir no Bivouac é uma experiência obrigatória. É um acampamento rudimentar para passar a noite, simulando a vivência do povo local. Área cercada por tapetes (chão, laterais e teto), e a grande preocupação da maioria dos viajantes são os banheiros. Do lado de fora das tendas, existe um acesso para banheiros masculinos e femininos. O grande problema é que, à meia-noite, todos os geradores são desligados. Sendo assim, de madrugada tivemos que ir com lanterna do celular para acessar o toalete. Não é uma estadia de luxo, mas é uma experiência inesquecível. As noites são animadas, e vale a pena acordar cedo para assistir o nascer do sol. Também é recomendado chegar ao final da tarde e “pegar” num dromedário para dar uma volta nas dunas.

Em breve, publicaremos a segunda parte da matéria. Fique ligado!

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