Os integrantes do MC Eu, Gata e Fiel, Moto Clube da cidade de Macaé, no Rio de Janeiro, decidiram se aventurar pelas terras do Marrocos. Lá, eles encararam, estradas sinuosas, diversas curvas e belezas encantadoras. No total foram 16 dias de passeio e 14 motos rodando, todas da BMW. No dia 17, publicamos a primeira parte desta saga. Confira agora o relato final!

TEXTO E FOTOS: PAULO GOMIDE

10º dia – Merzouga / Boulmane Dades: Esse dia era a comemoração do meu aniversário de 60 anos e teríamos a chamada “Cereja do Bolo”. Era o dia de encarar as Gargantas do Dades. Na saída das Bivouac, fomos examinar a pequena descida onde a areia era mais fofa, de forma a evitar tombos. Após pequena lombada, existia uma trilha mais dura, indicada para as motos. Quase todos passaram com sucesso sem cair, porém, quando olhei para trás, um amigo atolava. Pena que faltaram fotos para registrar o feito. Deixamos o Deserto do Sahara, passando em pequenas aldeias berberes. Depois de algumas horas pelas R702 e N10, chegamos a Tinghir, porta de entrada para o desfiladeiro de Dades. Essa região, também conhecida como Vale de Dades, fronteira com o Saara, é muito importante para a história do Marrocos. Esse trecho vale pela viagem, é uma das Estradas mais icônicas no mundo e percorremos ela subindo e descendo. Depois, retornamos à cidade de Boulmane Dades e ficamos no hotel.

11º dia –Boulmane Dades / Fes: Partimos às 7h15, pois teríamos mais de 550km para rodar. Subimos o Atlas com passagem na aldeia de Imilchil com seus lagos Khenifra e Ifrane. Ifrane é chamada no Marrocos como a Suíça Marroquina por causa do esporte, do clima mais frio, dos jardins e chalés de telhados vermelhos. A cidade fica a 1.650 metros de altitude, durante o inverno fica toda coberta de neve, o que atrai muitos turistas para a estação de esqui Michliffen. Seu nome significa caverna, local onde as tribos bérberes habitavam. A descida do Atlas foi tumultuada. Como era domingo, a pista era de mão dupla e muitos veículos retornavam para suas residências do fim de semana, atrasando bastante nossa chegada à Fez.

Fez já foi capital do país inúmeras vezes e é a segunda maior cidade do Marrocos, só ficando atrás de Casablanca. Foi fundada no século IX. Andar por suas ruas é como voltar à Idade Média. E isso pode ser, ao mesmo tempo, mágico e caótico. Saímos do Hotel e passamos pelo Centro de Fez e seguimos até Borj Nord, local onde se localiza o Museu de Armas, que é uma fortificação no topo de uma colina perto das muralhas do norte da cidade. O edifício militar foi construído no século 16 para controlar a Medina e protegê-la contra agressões externas. Com um plano quadrado que se estende na forma de uma flecha em cada um dos ângulos, o prédio tem um aspecto semelhante ao das fortalezas portuguesas. De lá tivemos uma visão de toda a cidade.

Depois, partimos para a famosa Medina mais antiga (e a mais turística) de Fez, conhecida como Fez El Bali (ou Fez, a Velha), é considerada patrimônio cultural da UNESCO junto às de Marrakesh, Essaouira e Tétouan.  Mas, se localizar numa cidade erguida no século IX é tarefa das mais difíceis. Tem perímetro de mais de 40km² e foram contratados dois guias para abrir e fechar o grupo, evitando o desencontro de nosso pessoal. Ainda assim, um dos nossos integrantes parou para fazer compras e teve muitas dificuldades para sair. Pediu ajuda e, lá fora da Medina, os táxis não queriam levá-lo ao Hotel, até que um motociclista deu uma carona em sua motoneta. Lá, o exotismo toma conta de um cenário único, cheio de ruelas labirínticas. Há souqs (os mercados) dedicados para cada atividade: roupas, cerâmicas, tapeçarias, artesanato, alimentação. Mas, quase lado a lado, podem conviver um pedaço enorme de carne de carneiro pendurada em ganchos com belas e delicadas pashminas coloridas. Outra curiosidade do local são os curtumes. Nos terraços das lojas de couro, são feitos passeios onde pode se acompanhar o trabalho dos funcionários tingindo o couro, o cheiro é de embrulhar o estômago e na entrada são entregues folhas de hortelã para se colocar no nariz.

Também em El-Bali está a Mesquita de Karaouine, fundada no ano de 859, e também a universidade de mesmo nome, que reivindica o título de a mais antiga do mundo. Infelizmente, o interior fica vetado aos não-muçulmanos. Conseguimos tirar uma foto, porém da porta de entrada. Em minha caminhada pelo interior da Medina, as crianças e os vendedores me chamavam de Ali Baba em virtude da espessa barba que mantive durante a viagem, inclusive pedindo para tirar fotos.

12º dia – Fes /Tetouan: Aqui iniciávamos o nosso retorno em direção à Europa. Bem perto da Costa com trecho de 281km, acreditávamos que seria mais rápido. A opção foi seguir um caminho mais curto, pelas Montanhas do Médio Atlas. Porém, trânsito pesadíssimo, muitos ventos, viagem noturna, foi muito estressante. As rajadas de vento jogavam as motos na direção dos despenhadeiros e tivemos uma sorte muito grande de não nada acontecer. Na chegada em Tetouan, o GPS de Miguel (guia) acabou a bateria e ele tentou seguir pelo celular. Fomos parar em área desabitada, após às 21h, e todos encontravam-se muito cansados. Durante o jantar, um grupo resolveu se rebelar. O Hotel ficava em uma praia muito bonita e informaram que no dia seguinte somente sairiam após às 12h. Tivemos uma pequena discussão, pois iríamos rodar quase 500km, passando pela fronteira do Marrocos, com muita burocracia e ainda tínhamos de contar com os horários de partida dos Ferry Boat. Ficou acertado então saída às 10h, porém mais um atraso do grupo e saímos após às 10h30.

13º dia – Tetouan / Tavira: O trecho pequeno até Tanger foi muito enrolado. Mais uma vez, montanhas acompanhavam o belo litoral marroquino, porém uma neblina intensa e desta vez acompanhada de muito vento atrapalhou demais a chegada ao porto. Após os trâmites na aduana, desta vez bem mais rápida, perdemos o Ferry Boat e tivemos que aguardar o novo horário, com partida para às 15h. Chegamos em Tarifa e tivemos que aguardar a liberação de todos os veículos, e demorou bastante. Passava das 17h e teríamos quase 400km para rodar. Seguimos em direção a Sevilha e o calor estava cada vez maior. Lá, marcava a temperatura de 39º em minha moto. Passamos pelas suas avenidas contornando a grande cidade e o sol batia exatamente em nossos rostos. Trânsito muito pesado e nossa referência era a lanterna traseira da moto à frente. Conseguimos nos desvencilhar do tumulto e as estradas muito bem sinalizadas da Europa nos levavam à Portugal. Chegamos à noite e nos hospedamos em mais um Hotel top da viagem, o Vila Galé Albacora.

Como o restaurante fechava às 22h, fomos direto para ele. Ali, o prazer em desfrutar da maravilhosa cozinha portuguesa, agregada a carta de vinhos e azeites alentejanos do grupo, onde a variedade de frutos do mar era espetacular, o que nos proporcionou uma deliciosa noite etílica gastronômica. Ao lado, músico com excelente repertório (principalmente rock), fez com que todos esquecessem o cansaço. Pela manhã, visita à charmosa cidade de Tavira para depois seguir em direção à Albufeira.

14º dia – Tavira / Albufeira: Esse trecho seria bem pequeno, somente 70km nos separava de Albufeira, que fica na região do Algarve, em Portugal, e pertence ao distrito de Faro. É um lugar turístico, muito frequentado no verão devido às praias e atrações turísticas que combinam mais com essa estação. São aproximadamente 30 km de costa que fazem com que visitantes de toda a Europa e de outras partes do mundo escolham a cidade para veranear. Ficamos no Hotel Vila Galé Atlantico, localizado junto à praia da Galé e os quartos contavam com varanda para o mar. Como achei o local muito charmoso, tomamos um banho rápido e resolvemos explorar a região. Saímos de moto e descobrimos que as ruas não são organizadas. Descemos em direção à Praia da Galé que víamos de nosso quarto, porém não havia linha reta em sua direção. Rodamos um bom tempo em seu litoral e notamos que na região residem muitos estrangeiros, principalmente aposentados que apostaram em viver neste local tranquilo. Após esse passeio, anoitecia e fiquei com receio de não me localizar com facilidade para chegar ao hotel. Acabei passando por um mercado e fiquei maravilhado. Uma variedade imensa de vinhos, frios e queijos estampados em suas galerias. Não resisti. Adquiri duas garrafas de vinho, frios diversos, queijo da Serra da Estrela e retornei para o Hotel. Montamos estrutura em nossa varanda e ouvindo música, acompanhamos um espetacular pôr do sol. Mais tarde, descemos para o jantar e mais uma vez, apesar de não estar com fome, não pude resistir à culinária Mediterrânea, e aos vinhos nacionais.

15º dia – Albufeira / Lisboa: Após 270km chegávamos novamente à Lisboa para entrega das motos. Deixamos no estacionamento e logo uma van com uma carretinha levava os “nossos” brinquedos para a BOMCAR. O odômetro marcava 4.899km, e peguei a motocicleta com 600km rodados.

A moto

Sobre a moto BMW 1200 GSA, achei a ciclística muito boa, freios excelentes e embreagem muito macia. Porém, o banco do piloto é muito largo (feito para alemães) e muitos reclamaram de assaduras durante a viagem, assim como o para-brisas, apesar de ajustarmos tanto alto como baixo, não conseguiu desviar bem o vento pegando muito no capacete e deixando um certo incômodo no pescoço, além do barulho para velocidades acima de 140km/h. Os controles de tração para os tipos de terreno enfrentados são bem completos. O Miguel, que foi nosso guia, orientou sobre os ajustes e atendeu muito bem mesmo na areia. O sistema de partida sem chave (Keyless Ride) é bem prático, mas essa comodidade criou uma certa confusão. Após em uma parada no deserto para tirar fotos, como algumas motos eram idênticas, ao retornar, dois amigos não conseguiram ligar as motos de forma alguma. Somente houve sucesso quando observaram que tinham subido em motos trocadas.

Ao chegarmos em Portugal, deixamos as coisas no quarto e partimos para programação pela cidade. Fomos direto para o Mercado da Ribeira. O prédio que abriga o Mercado da Ribeira, em frente ao Cais do Sodré, em Lisboa, data do fim dos anos 1.800. Conhecido pela oferta de verduras e flores, entre outros itens, o local acabou perdendo espaço quando foi aberto o MARL, o Mercado Abastecedor da Região de Lisboa, em 2.000. Em maio de 2.014, porém, um projeto de revitalização transformou parte do espaço numa atração imperdível para quem está de passagem pela cidade. Uma área de 5.500m² do térreo do mercado tornou-se uma grande praça de alimentação com curadoria da edição local da revista Time Out. Mais de 30 restaurantes dos mais diversos estilos dividem o espaço, oferecendo de comida orgânica à gastronomia prêt-à-manger de chefs conhecidos. Optamos por almoçar do lado de fora, e por indicação da Ana Paula, optei pela Amêijoas à Bulhão do Pato. Amêijoas, que no Brasil são bastante conhecidos como vôngoles. O prato é confeccionado com amêijoas, azeite, alho, coentros, sal, pimenta e limão (para temperar antes de servir) e vem servidas em prato com muito azeite. Espetacular!

Demos uma volta em todo o mercado e descobrimos um lugar que vendia os “Bolinhos de Bacalhau” – foram os melhores que já comi em minha vida. Sentamos num dos balcões internos e consumimos cada um pelo menos 6 bolinhos, acompanhados por um vinho verde alentejano maravilhoso. No Hotel, houve o jantar de despedida e foi uma belíssima confraternização. A nossa partida estava marcada para o outro dia, às 23h, e tínhamos ainda um dia inteiro para aproveitar Lisboa.

16º dia – Passeio por Lisboa: Como já tínhamos estado em outra oportunidade em Portugal, marcamos roteiro pelo centro, iniciando pela Rua Augusta, onde fica o famoso arco triunfal e liga a Praça do Comércio à Praça do Rossio. Rodamos um tempinho por ali, depois pegamos um Tuk-tuk e partimos para o Bairro Alto, onde tomamos um café em uma praça de onde se avistava o Centro de Lisboa e viemos caminhando por suas ruas estreitas até o Chiado. O Bairro Alto e o Chiado são dois distritos intimamente relacionados de Lisboa, sendo um elegante de dia, enquanto o outro está à moda e fresco à noite. Chiado é o popular distrito de compras e teatros de Lisboa, que possui uma seleção de monumentos históricos, lojas de tradição e cafés e restaurantes interessantes. Tínhamos programado alguns locais para o passeio. Um deles era a Gelado Santini. Os Gelados Santini são considerados por muitos, e há muitos anos, a casa com os melhores gelados de Lisboa… foram considerados até os melhores do mundo!

Depois, seguimos em direção à Brazileira, também conhecida como a Brazileira do Chiado. É o mais famoso dos antigos cafés de Lisboa. No entanto, quando em 1.905 abriu as portas, era apenas uma loja de venda de café ao lote, “o genuíno café do brasil, de Minas Gerais”. Em 1.908, profundamente remodelado e ricamente mobilado, surgiu o café que rapidamente se tornou ponto de encontro de escritores, artistas e jornalistas. Um dos seus mais fiéis clientes foi certamente o poeta Fernando Pessoa, hoje imortalizado por uma estátua de bronze, sentado ainda a uma mesa da esplanada. Depois, retornamos ao Centro onde boas lembranças vinham à minha mente. Em 2011 em viagem do grupo, almoçamos no Restaurante Típico, então resolvi retornar lá após 6 anos. O atendimento não mudara nada, aquele mau humor dos garçons portugueses permanecia intacto. Porém, a boa comida e o vinho valeram novamente a nossa visita.

Logo retornamos ao Hotel e aguardamos a hora de nossa partida chegar. Agradecemos a todo o grupo da “Euromototravel”, pelo passeio sensacional que nos foi proporcionado e pretendemos agendar novas “voltinhas” ao Velho Continente.

Valeu, e até a próxima!

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