Um casal, uma moto e uma imensa vontade de realizar algo grandioso: percorrer 14.498 quilômetros durante 61 dias, passando por 14 países. Confira o relato nas palavras do próprio viajante

TEXTO E FOTOS: MARCO HENRIQUE ZANQUETA

No ano de 2012 eu, Marco Henrique Zanqueta, de 35 anos, editor de vídeos, e minha esposa, Fernanda de Souza Valbert, de 33 anos, arquiteta, realizamos uma façanha: uma viagem de moto de 61 dias, na qual percorremos 14.498 km e passamos por 14 países da Europa. Essa foi a nossa primeira experiência como moto aventureiros e, hoje, podemos dizer que começamos em grande estilo! Nessa saga, utilizamos uma Honda ST1300 Pan European, ano 2005.Uma curiosidade: essa moto já pertenceu à polícia britânica – é uma ex-police bike –e por isso pagamos um valor abaixo da tabela.Esses modelos são comuns na Europa, são leiloadas e legalizadas para rodar na rua, geralmente são de cor branca e de alta cilindrada.

O roteiro

Basicamente o que fizemos foi dar uma volta pela Europa.Passamos por 14 países: Inglaterra, França, Espanha, Andorra, Mônaco, Suíça, Itália, Vaticano, Liechtenstein, Áustria, República Tcheca, Alemanha, Holanda e Bélgica.Na elaboração do roteiro, demos prioridade às rotas e destinos famosos entre os moto aventureiros de todo o mundo, lugares espetaculares, altamente recomendados, com paisagens de tirar o fôlego. Em minha opinião, a Rota dos Grandes Alpes e a passagem por Pyrenees e StelvioPass valeram todo o nosso esforço e dinheiro gasto na viagem, o resto foi lucro!

Picos de Europa

Picos de Europa é um parque nacional situado ao norte da Espanha. Montamos acampamento em Riaño, e o lugar por si só vale todo o passeio pelo parque.A vista que tínhamos a partir da barraca e do camping era exuberante. Ficamos no Camping Riaño, localizado no alto de um morro, de frente a um lago, montanhas e de toda a cidadezinha, uma cena espetacular.

Pireneus ou Pyrenees

Os Pireneus são uma cordilheira cujos montes formam uma fronteira natural entre a França e a Espanha, uma formação mais antiga do que os Alpes. Esse conjunto de montanhas se estende por quase toda a fronteira entre os dois países. E incrustado nessa fronteira está um pequeno país chamado Andorra. Fizemos um zigue-zague entre a França e a Espanha, tentando aproveitar ao máximo o visual da localidade, mas temos que dizer que a região francesa é mais bonita e com clima mais agradável. A parte espanhola é mais árida, e é impressionante como a paisagem muda em apenas alguns quilômetros percorridos.

Riviera Francesa ou Côte D’Azur

A Riviera Francesa é uma parte da região litorânea da França banhada pelo Mediterrâneo, onde fica o Principado de Mônaco. A região é muito bonita, tem um litoral montanhoso e com estradas beirando penhascos com visuais incríveis. A área também é famosa por atrair artistas e milionários.

Rota dos Grandes Alpes

A Rota dos Grandes Alpes é um roteiro turístico que liga a Riviera Francesa até o Lago de Genebra, passando pelos Alpes Franceses. Essa é uma das regiões mais bonitas da Europa. A rota passa por diversas montanhas, ou “Mountain Pass”. Nessa passagem está a segunda estrada mais alta da Europa, a Col de La Bonette, que, em nossa modesta opinião, é a passagem mais bonita de todo roteiro que fizemos.Lá encontramos diversas bases militares, trincheiras, abrigos e túneis antiaéreos, ruínas da Primeira e Segunda Guerra, além do visual único das montanhas de areia vulcânica escura cobertas de vegetação dourada. Adoramos!

A Rota dos Grande Alpes passa por diversas passagens. A rodovia começa em Thonon-les-Bains, passa por LesGets, Cluses, Saint-Gervais, Megève, ColdesSaisies (1.633m), Beaufort, Bourg-Saint-Maurice, Val-d’Isère, Col de l’Iseran (2.770m), Modane, ColduGalibier (2.642m), Coldu Lautaret (2.058m), La Grave, Briançon, Col d’Izoard (2.361m), Embrun (Lago Serre-Ponçon), Col de Vars (2.111m), Barcelonnette, Col de laBonette (2.802m), Col de laCayolle, Sainte-Martin-Vésubie (1.500m), até Menton, onde a rota acaba e alcança o Mar Mediterrâneo.

Stelvio Pass (Itália)

A Passagem de Stelvio (Passo dello Stelvio ou Stelvio Pass) é uma passagem de montanha no norte da Itália, que fica a 2.757m do nível do mar, próxima às fronteiras da Suíça e Áustria. É a maior passagem de montanha pavimentada dos Alpes orientais, e a segunda mais alta dos Alpes. A passagem só fica aberta de junho a setembro, e tem 75 curvas fechadas (75 cotovelos), sendo 48 deles do lado norte. O pico é muito frequentado por ciclistas e praticantes de esqui, e também muito conhecido no meio automotivo. Segundo o programa Top Gear, essa é a segunda melhor rodovia para se dirigir no mundo. De toda a viagem esse foi o nosso destino favorito. Gostamos e pretendemos voltar!

Grossglockner High Alpine Road (Áustria)

A rodovia de Grossglockner liga a cidade de Bruck até Heiligenblut, na Áustria, passando por FuscherTörl e Hochtor. Passaa 2.504m acima do nível do mar. A rodovia leva o nome do pico mais alto da Áustria, o Grossglockner, e é famosa por ser uma das mais bonitas da Europa. Ela possui cobrança de pedágio: moto paga 25 euros e pode rodar o dia todo. Infelizmente tivemos o azar de pegar muita chuva, vento e muita neblina na nossa passagem por lá, e não conseguimos ver nada das belas paisagens que a rodovia tem a oferecer, foi muito frustrante. Mas, quem sabe na próxima, não é?

Planejamento e budget

Em se tratando de uma viagem de férias, decidimos pegar leve nas distâncias percorridas por dia, e que deveríamos ser flexíveis com o roteiro, e assim foi feito. Inicialmente especulamos um gasto diário de 100 euros, incluindo comida, combustível, hospedagem etc. Estávamos cientes que, com essa verba, não poderíamos comer bem e nem dormir direito, e ambos estávamos de acordo com isso! Tentamos acampar e comer fast food sempre que possível. O problema de acampar é que se perde muito tempo montando e desmontando o acampamento, além de carregar e amarrar tudo na moto. No final das contas, acampamos em 56 das 60 noites de viagem, e gastamos mais de 1.500 euros em fast food. Não foi fácil, mas encararíamos tudo outra vez!

O segredo é não acampar com colchão de ar no frio, e não comer a batata frita nem o refrigerante nos fast foods! Ao final da viagem contabilizamos um total de 6.790 euros, gastos durante os 61 dias de passeio pela Europa, uma média de 111 euros/dia. Isso incluindo três pneus, troca de óleo, e renovação do seguro da moto por um mês, só nisso gastamos 700 euros. Além dos gastos da viagem, tivemos os dividendos com a aquisição da moto, que compramos em outubro de 2011 por 4.100 libras, e vendemos em outubro de 2012, por 3.000 libras, após 33.000 km e 1 ano de uso.

Obs.: Os valores citados na matéria são de 2012, portanto, não devem ser usados como base para viagens atuais.

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