Três aventureiros passaram 16 dias na estrada e rodaram mais de 7000 km, a maioria em estrada de chão. Acompanhe o relato dos viajantes agora, em Moto Adventure!

TEXTO E FOTOS: ADRIANO DURAES

Faz um tempo que queria conhecer a Rodovia Amazônica, local magnífico do nosso país. O André (amigo de infância) veio com essa ideia e de imediato eu já decidir ir com ele. Num último momento, o Amerizon (cunhado do André) juntou-se a nós, mesmo sem nunca ter andado de moto em estrada de chão – sua maior experiência era ter feito uma viagem de 100 km no asfalto há 20 anos. O nosso trajeto ficou assim: BR 153, rodovia transamazônica (BR 230), Humaitá-Manaus (parte mais crítica da BR 319, conhecida como rodovia fantasma), Manaus a Santarém de barco, depois Santarém a Cuiabá (BR 163) e entramos pela MT 322 (que passa pelo reserva dos índios do Xingu e sai na cidade de Novo Santo Antonio), de lá passamos pelo parque estadual do Araguaia até Luís Alves (GO).

Seriam aproximadamente 3500 km de asfalto, uns 3800 km de estrada de chão e 700 km de barco. Essas são consideradas as piores rodovias do Brasil. Vale salientar que estávamos levando ferramentas, peças de reposição, além de itens para acampar, alimentos e água para dois dias. Saímos de Uruaçu no dia 07/09/17, às 06h. Eu e o André estávamos com uma Yamaha Ténéré 250, e o Amerizon com uma Honda XRE 300, quando rodamos 865 km até Araguaína, no estado do Tocantins. Passamos por Xambioá, onde pegamos nossa primeira balsa, a do rio Araguaia, e chegamos ao estado do Pará. Passamos por Marabá e estávamos já na mítica transamazônica, porém, em trechos de asfalto, e não era isso que queríamos. Logo começou um trecho de estrada de chão de mais de 100 km dentro da reserva dos índios Parakanã. Chegamos ao final do dia em novo repartimento, onde dormimos. Total do dia: 460 km (em torno de 350 asfalto e 110 terra).

Rodando

No dia 09/09 rodamos em trechos de asfalto que se misturava com pequenos trechos de terra, passando pela Subida da Velha, que ainda não foi asfaltada (famosa pelos atoleiros na época da chuva), por Pacaja, usina de belo monte e almoçamos em Altamira. Como pegamos chuva neste dia, a pilotagem muda completamente, já que estávamos com pneus mistos. Continuamos a viagem até depois de Medicilândia, onde furou o pneu da minha motocicleta (estávamos há mais de 30 km de Uruará). Resolvemos o problema e, como já estava escuro e começou a armar uma chuva muito forte, resolvemos ficar por ali mesmo e acampamos num bar abandonado. Resumo: rodamos 480 km neste dia, sendo que quase todo o trajeto foi em estrada de terra.

Mais chão

Já no dia 10/09 saímos bem cedo e tive o primeiro tombo, que ocorreu em uma poça grande. Foi perigoso porque a poeira subiu e o André e Amerizon vinham numa velocidade mais alta e passaram bem próximo a mim, e eles só me visualizaram há poucos metros de distância. Tomamos café em Rurópolis e de lá seguimos até Itaituba. No final do dia, entramos no parque nacional da Amazônia e apreciamos uma natureza exuberante, e seguimos por uns 10 km dentro da mata sem encontrar um local apropriado para montar acampamento, daí voltamos ao início do parque, onde tinha uma sede do Ibama e fomos autorizados a montar o acampamento.

No dia 11/09, às 07h, iniciamos o trajeto dentro do parque e não cruzamos com praticamente nenhum carro até chegar ao KM 180 (local de apoio a garimpos da região). Seguindo, encontramos 3 ciclistas que estavam fazendo o trajeto de Itaituba para Humaitá, então paramos para trocar algumas palavras com eles. Depois, vimos uma reportagem e descobrimos que eles eram cientistas, e um deles era um astronauta da NASA. Neste trecho da viagem, tomei um segundo tombo, este bem forte, já que estávamos rápidos. O Amerizon também caiu neste trecho. Como diz um outro amigo de estrada: “a viagem de moto continua até acabar as abraçadeiras plásticas” – e isso tínhamos de sobra.

Passamos em Jacareacanga para fazer uns reparos na minha motocicleta e resolvemos chegar à balsa do rio Sucunduri (que tem uma vila), já no estado do Amazonas. Foi um dia pesado, estrada ruim, cheio de poças e valas, e mesmo assim andamos 550 km em estrada de chão. Neste dia também vimos muitas queimadas na floresta, coisa que nos entristeceu muito e ficamos nos perguntado onde está o poder público para inibir isso. Lamentável!

Mantendo o ritmo

No dia 12/10 andamos num ritmo bom, passamos em Apuí e pegamos uma estrada de terra boa, que esporadicamente apareciam umas valas grandes. O Amerizon acabou caindo devagar numa delas, e o André teve uma queda forte após passar numa vala. Chegamos ao final do dia em Humaitá, após atravessar a balsa do rio madeira. No dia 13/09 acordamos cedo e pegamos informações com uma turma da PM sobre a famosa rodovia fantasma. Andamos até um pequeno vilarejo chamado Realidade, isso numa estrada de asfalto pior que a maioria das estradas de chão que passamos. Abastecemos as motos e colocamos gasolina num galão de 5 litros por precaução. A rodovia fantasma alterna trechos bons e alguns péssimos.

Mas conseguimos manter a tocada e chegamos por volta das 15h30 em Iquapó-açu (Inicialmente pretendíamos dormir aí, porém devido ao horário e a disposição, a turma resolveu continuar na estrada e parar quando escurecesse) Às 17h30 estávamos chegando à cidade de Careiro para abastecer novamente. Resolvemos chegar a Manaus, sabendo que a última balsa para atravessar o rio Solimões saía às 20h. Dentro do prazo, pegamos a balsa e entramos em Manaus, e fomos direto ao hotel para descansar. Total do dia: 697 km rodados.

Revisão

Dia 14/09 já estávamos na cidade de Manaus, então fomos revisar as motos. Depois, procuramos um barco para nos levar até Santarém. Nosso barco seria o “Golfinho do Mar”, com capacidade para 700 pessoas. Total da brincadeira: R$ 285,00 por pessoa. Optamos por ficar nas redes juntos com os moradores da região para conhecer esse modo de viagem da população, e foi uma ótima opção. Muito boa esta parte da viagem, deu para descansar o corpo das estradas pesadas. Vimos um pôr do sol espetacular! Chegamos a Santarém no dia 16/09 no final do dia. Estava escurecendo quando deixamos as motocicletas prontas para seguir ate Álter do Chão.

Na sequência, seguimos até a Vila de Campo Verde (conhecido como KM 30) e de lá, ao invés de seguir para Itaituba, fomos no sentido de Cuiabá (MT). Neste trecho pegamos partes asfaltadas e outros com muita poeira. O trânsito de carretas é muito intenso e é complicado para ultrapassá-las. Fomos até a cidade de Morais Almeida, e andamos 555 km nesse dia. Após abastecer e tomar um lanche num posto, ficamos sabendo de uma cachoeira na região da Serra do Cachimbo chamada “Curua”. O lugar é muito bonito!

Cuidado com as poças!

Continuamos a viagem e entramos no estado do Matogrosso. Pegamos um asfalto bom até a cidade de Matupá, e de lá, entramos na rodovia MT 322, cruzando a reserva dos índios do Xingu. Seguimos por mais uns 60 km de asfalto e começou novamente a parte de estrada de chão, após um pequeno povoado, que foi onde reabastecemos as motocas. Agora, só veríamos asfalto assim que entrarmos na cidade de Luís Alves, já no estado de Goiás. Nesta parte da viagem, pegamos muitas poças fundas e de grandes dimensões. O André acabou caindo e quebrou a manete da embreagem, sorte que tinha uma de reserva. Após o conserto continuamos a saga. Neste dia rodamos 654 km.

No dia seguinte, chegamos cedo à balsa do rio Xingu, que era operado pelos índios da reserva, e fomos até a cidade de São José do Xingu. Passamos numa estrada muito ruim. Muito calor, poeira e poças. Nosso próximo destino era “Alô Brasil”. Neste trecho, o André acabou caindo de novo e teve uma luxação no quinto dedo da mão esquerda, então resolvemos ir até a cidade de Bom Jesus do Araguaia, onde ficamos hospedados e arrumamos gelo para tratar o ferimento. Saldo do dia: cerca de 323 km.

Rios e mais rios

Pela manhã, saímos do hotel e pegamos a estrada até cidade de Novo Santo Antônio. São 80 km numa estrada de chão. Chegando à cidade, atravessamos a balsa do Rio das Mortes, chegando ao parque estadual do Araguaia. Agora começava um trecho de muita areia, porém foi a parte mais agradável da viagem, com natureza exuberante, estradas muitos isoladas, muitos animais selvagens e, logicamente, alguns tombos! Continuamos no areião e chegamos à balsa do rio Cristalino, que faz jus ao nome pela cor de suas águas. Fizemos 85 km neste trecho em 3 horas. Após atravessar de balsa, optamos por almoçar. Tínhamos informações que este trecho era mais difícil e não queríamos perder a balsa do outro rio (o famoso Rio Araguaia, que divide o estado de Goiás do Mato Grosso). Realmente a estrada era muito difícil, mas mantemos um ritmo forte. Havia muitos animais selvagens, cervos, aves diversas, raposas, muita areia e diversas poças fundas, principalmente nos 10 km finais.

Finalizando

Chegamos a Goiás às 17h15, muito cansados, porém, satisfeitos por já estar lá. Atravessamos o rio Araguaia e chegamos a Luís Alves. Total deste trecho: 75 km em 2h30. Nem saímos para jantar devido ao cansaço. No dia 22/09 saímos cedo de Luís Alves e passamos por São Miguel do Araguaia para abastecer. Lá tinha a opção de seguir viagem pelo asfalto ou cortando caminho por estrada de chão. Obviamente, optamos por cortar caminho pelo percurso arenoso. Passamos por Bonópolis, Amaralina, e então pegamos asfalto até nossa querida cidade de Uruaçu (GO).

Foram 16 dias totais na estrada e mais de 7000 km, a maioria de estrada de chão. Graças a Deus fizemos uma viagem sem incidentes importantes. Conhecemos lugares e pessoas maravilhosas e que nos ajudaram muito. Meus parceiros de viagens não poderiam ser melhores, foi realmente uma grande aventura, e que recomendamos a todos que gostam de conhecer lugares poucos explorados.

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