Em artigo inicial, nosso novo colunista conta um pouco da suas experiências de vida e como o motociclismo entrou na sua jornada

Texto: Oswaldo Fernandes
Fotos: Divulgação

É difícil lembrar onde tudo começou. Talvez seja nas primeiras aventuras com os triciclos de criança, ou até mesmo com os pré-históricos carrinhos de rolimãs, mas na verdade, desde o início, a aventura e as novas experiências sempre me cativaram. Meus pais sempre foram conservadores, cuidadosos e, por muitas vezes, os achei retrógrados demais, porém, aprendi e entendi o que significava aquelas duras palavras quando eu mesmo tenho de repeti-las em alto e bom tom aos meus filhos.

Hoje, pratico os bons caminhos da segurança, valores da vida e o amor de um pai a seu filho, acho que até de forma mais crítica.  Mas, o tempo passou, as aventuras em minha adolescência foram dedicadas ao mundo das quatro rodas, por onde cresci, me formei, relacionei, trabalhei e constitui família, tudo de forma planejada e conservadora.

Formado em engenharia, iniciei com minha própria empresa de automação e instrumentação industrial, foco e obstinação pela vitória e sucesso eram minhas metas. Casei, constitui família, filhos maravilhosos e a oportunidade de poder ver minha empresa evoluir eram propostas conservadoras, mesmo com os desafios diários.  Trabalhei em grandes projetos de empresas multinacionais, gerenciei mais de 120 funcionários, controlei indicadores, desafiei novas metas, conheci a guerra da sobrevivência e as dificuldades de se empreender uma empresa, por mais de 20 anos, neste país chamado Brasil.

Ética e cidadania

Meus país puderam mostrar o caminho, a ética, o orgulho de se conquistar objetivos pelo seu próprio trabalho, e muito pelo dever da honestidade e respeito às pessoas, e a oportunidade de se fazer o que se ama para minha própria felicidade.  Nada foi fácil, mas dentro de meus limites e interesses pessoais, sou sincero em dizer que estava feliz, encaminhado profissionalmente e que o futuro seria administrar o que havia conquistado.

O caminho estava à frente, com muito mais trabalho e dedicação, mas me sentia fechado em meu mundo, e que tudo um dia pudesse terminar daquele jeito, eu me sentia acomodado, em um ímpeto de poder buscar um hobby, fui conduzido por um amigo a conhecer o motociclismo. Eu precisava de algo próprio de satisfação e entretenimento.

Motociclismo à vista

Desde o primeiro instante me identifiquei, pude sentir a potência do motor, ter a ambição de novos caminhos, a vontade de poder usar a motocicleta em novas aventuras da minha vida. Eu desejava novos limites. Nos três primeiros anos, logo uma viagem internacional realizei.  A determinação, a vontade e o controle pessoal de domar a máquina, persuadir o medo, criar a coragem, buscar a aventura do desconhecido, e sorrir para a vida, proporcionaram a certeza do prenuncio de uma nova vida: a minha vida.

Por ter um passado distante das motos na fase jovem da vida, mas tempos ricos na formação pessoal e profissional, me dediquei muito ao controle, planejamento, valores e gestão pessoal e de riscos, dei foco a um plano de ação ousado, estipulei metas, trabalhei desafios, superei medos e reestruturei minha vida pessoal, familiar, profissional e até mesmo espiritual.

Por fim, quando equilibrei a razão e a emoção, tomei a decisão de encerrar minha carreira profissional de empresário em automação industrial para me dedicar ao motociclismo pessoal, profissional e de aventuras. Não foi simplesmente uma mudança de vida, houve muita dedicação e busca de conhecimento em cursos, convivência com a diversidade, busca de novas competências e habilidade. A troca dos bits de um e zero pela emoção, vaidade, ego e poder que envolve o motociclismo era uma questão de busca da minha felicidade, mais que isto, foi abrir mão de algumas certezas, para muitas outras incertezas desconhecidas e inesperadas.

Foi poder acreditar poder fazer mais, com menos, mas de forma muito mais feliz, de atitude e de superação pessoal. Foi poder acreditar de ser capaz e de sentir o poder próprio da realização. Foi saber acreditar em mim mesmo. Nestes últimos 15 anos, muito aconteceu, tive a oportunidade de conhecer verdadeiros amigos, poder me entregar profissionalmente aos mais de 2000 alunos que tive a oportunidade de trabalhar nos cursos de motociclismo.

Consegui entender ações e reações pessoais nas mais severas condições de controle emocional, variações de temperatura, superação pessoal, controle de limites, gestão de riscos, medo e da minha própria fé. Tudo muito intenso. Tive a oportunidade de viajar por mais de 20 países de motocicleta, conhecer os fiordes da Islândia, a imensidão da estrada de Proudhoe bay a Anchorage no Alasca, a solidão das dunas de areia do Saara, a espiritualidade das cordilheiras dos Andes, dentre tantos outros lugares que jamais imaginaria ter conhecido.

Novas experiências

As experiências pessoais de conviver com o frio, calor, fome, cansaço, saudades e medo tornaram-me uma pessoa mais forte e de muito mais respeito às pessoas, as diferenças e, principalmente, ao tempo que temos e que, por muitas vezes, desprezamos.  Aprendi a orar, conversar com meu Deus, e entender que tudo isto será passageiro e que devemos viver ao máximo.  Continuo cada dia a conhecer pessoas, algumas novas, algumas com grandes histórias, outras nem tanto, ou até outras que já conhecia, mas continuo a desconhecer.

Pessoas que são fascinantes, outras que desejam ser fascinadas, pessoas que ajudam, alegram, motivam e outras que são somente pessoas. O mundo é assim mesmo, misterioso para todos, gigante, assim como a minha vontade de viver.  Em uma forma muito peculiar e de muita aventura, digo que continuo a me conhecer e aprender, a cada dia. A estrada é longa, mas e maravilhosa, é a que sempre desejei, com muitas retas de esperança, muito sol que ilumina meu caminho e me dá vida, às vezes chove e faz ser mais pensativo e receoso, às vezes o medo pela escuridão faz o limite da aventura.

Por certas vezes, as curvas exigem melhor equilíbrio, mas a estrada é essa, intensa, minha, e que seja a mais longa possível. E assim vou, sentindo, conhecendo e pilotando na minha estrada em busca de meus valores e da minha felicidade, tendo a grande alegria de poder saber que tudo isto valeu muito. Dedico este artigo aos meus pais que sempre me incentivaram e apoiaram, mesmo sendo contrários por algumas vezes.  Convido os leitores para acompanharem esta coluna, onde estarei escrevendo artigos sobre minhas experiências de vida pelo mundo e pelo amor ao motociclismo.

Sejam bem-vindos, sempre!

“Acredite que após cada curva, cada montanha e cada desafio pessoal, um mundo novo estará te recebendo de braços abertos”.

Este artigo é resumo do futuro livro a ser lançado, com o título: “E quando a estrada chegar ao fim?”  – Oswaldo F Jr / OZZY

É isto aí, aproveitem estes grandes momentos, e nos vemos pelas estradas!

Ozzy!

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