Um roteiro de 2.300 km através da Estrada dos Romeiros, Serra Rastro da Serpente, Serra do Corvo Branco, Serra do Rio do Rastro e Estrada da Graciosa; E com curvas a perder de vista!
Texto e fotos: Guga Dias
Guga Dias é jornalista e editor do site de moto-turismo “Diário de Motocicleta”, pelo qual, junto à esposa, Elda Silveira, percorre de moto os principais pontos turísticos do Brasil e da América Latina. Recentemente, em parceria com “Moto Adventure”, Guga seguiu para o sul do país. Veja como foi a viagem. E depois, no espírito dessa jornada, prepare a moto e vá para a estrada!
ENCANTOS
Por muito tempo, ouvi amigos falarem sobre os encantos da Serra do Rio do Rastro, que, para mim, era um roteiro distante. Afinal, à época, eu era proprietário de uma moto de 250cc, iniciante no Motociclismo. Mas passaram-se os anos, as cilindradas de minhas motos aumentaram e, finalmente, resolvi conhecer as famosas serras catarinenses e gaúchas.
CINCO SERRAS
Para ajudar a um grupo de amigos, em 2011, tentei agregar um valor extra para uma esticada até a Serra do Rio do Rastro e criei o Projeto Serras & Rastros, que coloca no mapa seis dias através de uma sequência de estradas incríveis (que, com certeza, queimam os pneus dos dois lados).
Com incontáveis curvas, este roteiro começa em São Paulo (SP), com destino a Capão Bonito (SP). Mas segue por um caminho alternativo e com uma história que poucos conhecem.
ESTRADA DOS ROMEIROS
Nossa primeira “pernada” abrange 70 km da Estrada dos Romeiros (SP-312), que pode ser acessada na altura de Barueri (SP), pela Rodovia Castelo Branco (saída 26B). Esta simpática estradinha margeia o Rio Tietê e é repleta de curvas fechadas e ziguezagues.
O começo é um pouco maçante, por cruzar o centro de Santana do Parnaíba. Mas, depois, a mata chega perto da pista e a diversão começa. A parte curiosa desta estrada, que cruza os municípios de Pirapora do Bom Jesus e Cabreúva até Itu, é que ela foi, originalmente, leito do Caminho do Peabiru, um trajeto construído pelos Incas, que ligava o litoral do Peru até a Baixada Santista (litoral de São Paulo). Percorrer um caminho assim, lendário e incrível – quem poderia imaginar Incas em Santos (SP)? – é, sem sombra de dúvida, algo fantástico.
Continuando a viagem, já em Itu (SP), acessamos novamente a Rodovia Castelo Branco até a altura de Boituva (SP), de onde seguimos para Capão Bonito (SP), para pernoitar e curtir a companhia agradável de nosso amigo Arthur, proprietário do point mais descolado da região: o Porthal Rastro da Serpente, que dá suporte aos motociclistas que passam pela região.
RASTRO DA SERPENTE
No segundo dia desse roteiro é chegada a hora de encarar a Serra Rastro da Serpente. Assim batizada pelos PHD (Proprietários de Harley-Davidson), esta serra possui mais de 800 curvas em pouco mais de 240 km (que ligam Capão Bonito/SP à Curitiba/PR).
Começando pela SP-250, que corta o Vale do Ribeira, em Apiaí (SP), a parada é obrigatória diante da Placa do Rastro da Serpente (para mais uma foto oficial). O percurso dura aproximadamente quatro horas e é para ser feito tranquilamente, curtindo cada curvinha, parando para fotos e filmagens.
SERRAS CATARINENSES
O terceiro dia é marcado por uma esticada de Curitiba (PR) à Urubici (SC), cidade localizada no alto das Serras Catarinenses. É um percurso de 450 km que passa pelas curvas da BR-282 (saída para Palhoça na Rodovia BR-101). Ainda em Santa Catarina, vivenciamos o nosso quarto dia de viagem, com aproximadamente 200 km rodados entre vários pontos turísticos. Começando pelo Morro da Igreja, de onde se avista a Pedra Furada, uma incrível formação rochosa que, após milhares de anos sob a ação do vento e da erosão, ganhou um “buraco” em seu topo. Por se tratar de área militar (por conta do radar do CINDACTA, que controla o tráfego aéreo do Sul do Brasil), é necessário obter uma autorização para a visita. O posto fiscalizador fica atrás do Banco do Brasil, em Urubici (SC). E sem fitinha no braço, nem adianta seguir em frente. O acesso ao Morro da Igreja se dá pela SC-439, também conhecida como SC-370. A Serra do Corvo Branco é o próximo ponto de nosso roteiro.
SERRA DO CORVO BRANCO
Esta serra apresenta a maior fenda aberta pelo homem em rodovias brasileiras. São cerca de 90 metros de rocha basáltica rasgada ao meio para a passagem da rodovia, que, desde a década de 1970, está congelada no tempo (e agora, espera por obras de duplicação).
O asfalto da SC-370, liso e perfeito, termina 5 km antes da fenda e segue por uma estrada de cascalho, na qual até motos Custom de 1600cc passam sem grandes problemas. Novamente, a vista vale o passeio. Se tiver apetite para descer a serra rumo a Grão-Pará, além de braço para pilotar em uma estrada de terra, pedra e lama, você precisará de uma moto mais “Trail”. No entanto, este roteiro vai só até o princípio da descida, voltando para o grande momento: curtir a Serra do Rio do Rastro. Para isso, é preciso retornar até Urubici (SC) e seguir por cerca de 85 km pela SC-110, uma de minhas estradas favoritas em Santa Catarina. Ela oferece curvas sinuosas e bem abertas, fáceis de encarar em alta velocidade. Porém, faça-o com moderação e atenção, já que é uma vicinal que cruza vários povoados.
SERRA DO RIO DO RASTRO
Chegando à beirada do cânion, a 1400 m de altitude, em Bom Jardim da Serra (SC), temos uma bela vista da Serra do Rio do Rastro. É a realização de um sonho para muitos e a superação daqueles que rodam durante dias e estradas para estarem ali. A parte divertida não dura 10 km e, por isso, não é de estranhar motociclistas subindo e descendo suas curvas várias vezes no mesmo dia. Ideal para fotos e filmagens, ao longo da serra é possível fazer paradas em vários recuos e registrar imagens incríveis. A velocidade de descida deve ser muito controlada, pois, além do tráfego de caminhões, que literalmente fecham as curvas em suas passagens, a pista íngreme pode acabar com as pastilhas dos freios.
ESTRADA DA GRACIOSA
No quinto dia do roteiro, já voltando para São Paulo, mas em terras paranaenses, a dica é fazer uma escala em Morretes (PR) e curtir a Estrada da Graciosa, uma preciosidade de 200 anos, com curvas em piso de pedra lisa que causam arrepios, mas que injetam adrenalina nos corações dos motociclistas. O trajeto sinuoso serra abaixo requer tantos cuidados quanto serra acima. Isto porque, na região, o índice de chuvas é elevado durante o ano todo, o que confere um piso com muito limo (como se já não bastassem as pedras de seu calçamento, bem polidas pelo tempo). Com calma e atenção, o passeio (de pouco mais de 20 km) pode ser feito em até uma hora. Afinal, ao longo da serra, há inúmeros quiosques com caldo de cana geladinho, além de doces caseiros da região. Depois, é chegada a hora de voltar à Rodovia Régis Bittencourt e regressar à capital paulista.
DICA
Planeje esta viagem lembrando-se que ela tem 2.300 km (para quem sai da capital paulista). O tour cruza a Estrada dos Romeiros, Serra Rastro da Serpente, Serra do Corvo Branco, Serra do Rio do Rastro e Estrada da Graciosa. No site do “Diário de Motocicleta”, há dicas de hotéis, restaurantes, mapas e pontos turísticos deste roteiro.
Acesse: www.diariodemotocicleta.com.br
*Matéria publicada na edição #161 da revista Moto Adventure.