A bordo de uma BMW R 1200 GS, o aventureiro Marcelo Guaranha desbravou as belezas de países como Espanha, França, Itália, entre outros, e conta em detalhes na matéria a seguir toda a emoção de percorrer as vias dessas regiões ricas em cultura, diversão e estradas de arrepiar!

TEXTO E FOTO: MARCELO GUARANHA

Diz o ditado que “a próxima viagem será sempre a mais bacana”. Impulsionados pelo clichê, o aventureiro Marcelo Guaranha e sua trupe planejaram ao longo de 10 meses a aventura sobre duas rodas no continente europeu. Eles iriam percorrer cerca de 3.350 quilômetros em 15 dias, ao longo de 4 países, 10 cidades e com os principais ingredientes que se pode colocar em um cardápio de férias: lazer, aventura, história e gastronomia, com paisagens espetaculares como pano de fundo. A motocicleta utilizada nesta saga foi a BMW R 1200 GS. Acompanhe a viagem nas palavras do próprio viajante.

Barcelona – Carcassone

Barcelona, eis o primeiro destino. A proximidade do hotel permitiu que chegássemos ao ponto de retirada da moto exatamente no horário marcado. Pouco tempo depois já estávamos rumando à Cordilheira dos Pirineus, sentido Ripoll e, passado uma hora, já estávamos nos Pirineus Franceses. Seguimos em direção a Axat, deixando os Pirineus para trás e acessamos a região de Languedoc Roussilion rumo à cidade de Carcassone, ponto final de nosso primeiro dia, após rodarmos 337 quilômetros.

Carcassone é declarada patrimônio mundial pela Unesco. As fortificações da cidade medieval estão estrategicamente situadas entre os oceanos Atlântico e Mediterrâneo, em uma colina logo acima do rio Aude. Mesmo estando repleta de turistas, a passagem sob o Portal da Cidade é uma verdadeira viagem no tempo. Suas ruas estreitas são testemunhas de tudo o que tem acontecido por lá há mais de 2.000 anos.

Provance e Alpes franceses

Nessa região, percorremos grande parte do trajeto no segundo maior parque nacional da França: O Parc Regional du Haut Languedoc, com suas áreas montanhosas e paisagem se alternando entre encostas pedregosas e montanhas cobertas de vinhedos. Após o mergulho no Canion de Saint Maurice Navacelles, a estrada segue cortando diversos vilarejos, com suas casas de pedras e ruas estreitas. A passagem por grandes alamedas marcam a chegada a Saint Rémy de Provance. A pequena cidade com suas ruas estreitas e boulevares também tem sua marca na história:

  • Vincent Van Gogh passou um ano no hospital psiquiátrico de Saint Paul de Mausole; foi um dos períodos mais “ricos” em termos de sua produção artística;
  • Saint Rémy é a cidade natal de Nostradamus e também guarda as ruínas de uma cidade romana – Glanum – fundada no século 6 AC.

Deixando a Provance, os campos passaram a dar espaço às grandiosas montanhas dos Alpes Franceses. Nosso destino agora era Briançon, segunda cidade mais alta da Europa, encravada nos domínios de Serre Chevalier. A cidade fortificada (Cité Vauban), com suas estreitas e íngremes ruas é um passeio obrigatório. Seu ponto mais alto oferece uma magnífica vista de toda a cidade e as mesas de seus cafés são um convite a apenas “passar um tempo”.

Banquete nos Alpes

Se pudermos comparar a experiência de pilotar nos Alpes ao cardápio de um restaurante, eu diria que o trecho entre Briançon e Chamonix, de aproximadamente 250 quilômetros, seria a “entrada” do nosso menu. Pela N-94 chegamos à cidade de Susa, já na Itália. A partir desse ponto, iniciamos a subida pela encosta do vale até o Col du Mont Cenis. A paisagem é simplesmente de tirar o fôlego!

Descemos em direção às cidades de Lanslebourg, Bessans e Bonneval Sur Arc, seguindo pela D-902 para o segundo destaque do dia: o mítico Col D´Ilseran. Esse passo de montanha faz parte do Route des Grandes Alpes, ligando Bonneval Sur Arc até Val D´Isere. Por ser desafiadora, nos meses de verão, as motos dividem o espaço com uma legião de ciclistas guerreiros, que buscam a tão desejada foto ao lado de sua placa.

Terminamos o dia em Chamonix, chegando à cidade pelo Túnel Mont Blanc. São 11 quilômetros de extensão em uma linha reta que passa exatamente abaixo do cume do Aguille du Midi. Em uma viagem onde a estrada faz parte do elenco, vale à pena a travessia. Todavia, manter toda essa estrutura para encurtar distâncias tem seu preço: a tarifa para motos custa nada menos do que 30 Euros!

Prato principal

Após dois dias de passeio na bucólica cidade de Lauterbrunnen, já na Suíça, chegamos ao “prato principal” do tour: um percurso de 282 quilômetros, com início e fim na cidade de Meiringen, passando no sentido anti-horário por quatro passos de montanha em estradas antológicas – pura diversão de altíssimo nível!

Grimsell, Nufenen, San Gothard e Sustenpass

A partir de Innertkirchen, atacamos o Grimsell pelo lado Norte. Ganha-se 1.500m de altitude em apenas alguns quilômetros, tendo como pano de fundo o lago Grimsell, sua barragem que alimenta o Rio Aar e o antigo hospício, que hoje abriga um estiloso hotel. A 2.165 metros você é presenteado com um visual incrível: centenas de motos estacionadas ao lado do lago Totensee de fronte ao terraço de um enorme café.

Chegando ao fundo do vale seguimos pela Furkastrasse em direção ao vilarejo de Ulrichen. Nesse ponto acessamos a Nufenenstrasse em direção ao Nufenenpass. Esse passo de montanha faz a ligação entre os cantões de Valais e Ticino. A subida se dá por encostas pedregosas e em seu ponto mais alto – a 2.478 metros – descortina-se o incrível visual do Glaciar Gries. Seguimos ao longo de um verdejante vale até a cidade de Airolo, uma comuna com pouco menos de 1.600 habitantes e ponto de partida de uma das mais importantes ligações entre o Sul e o Norte: O Passo de San Gothardo. Esse passo faz a ligação entre os cantões de Uri e Ticino. Há duas opções para se chegar ao ponto mais alto: uma é seguir pela Rodovia 2, com seu traçado moderno e túneis espetaculares, a outra via remete a 1.827 – uma serpente com 37 curvas, toda em paralelepípedos e chamada de Tremola. Trata-se do maior monumento histórico da Suíça com 15 quilômetros de extensão.

Descemos ao vale na direção de Andermatt e, na sequência, ao longo do Rio Reuss até a cidade de Wassen, ponto inicial do Susten Pass. Nesse ponto, acessamos a estrada 11 – Sustenstrasse – novamente em direção ao cantão de Berna. A 2.260m, a partir de uma enorme área de estacionamento, logo após o túnel, tem-se uma vista formidável do vale Gadmental e do Glaciar Steinen. Fechamos esse dia na pitoresca cidade de Engelberg.

A sobremesa: Zurich a Genebra

Fora da região dos Alpes, também há trechos de extrema beleza. No caminho entre as cidades de Zurich e Genebra destacamos os seguintes pontos:

  • Em um trecho do Gran Tour of Switzerland parada na cidade medieval de Gruyéres para provar o legítimo fondue do queijo que leva o nome da cidade – são 800 anos de história e charme que repousam em uma pequena colina com um castelo;
  • A partir de Châtel San Denis, a chegada a Vevey é triunfal: tem-se uma visão fantástica do Lac Leman à medida que a estrada desce junto aos vinhedos cultivados na encosta. Lá embaixo, vale muito à pena cruzar o balneário de Montreaux em direção ao Castelo de Chillon. Escolhemos o caminho mais longo, percorrendo todo o lado francês do lago passando pelos balneários de Evian Le Bains e Thonon Le Bains para entrarmos novamente na Suíça, já bem próximo de Genebra.

Uzés

O retorno a Espanha contemplou deslocamentos mais longos e, por consequência, o uso de autoestradas. Deixamos as montanhas para trás e seguimos pelo vale do Rio Rhône, entrando novamente na Região de Languedoc Roussilon – na França, rumo à encantadora Uzés. A história da antiga cidade fortificada remete aos Romanos. O aqueduto lá existente foi construído no Século I A.C. para abastecer o local onde hoje está a acidade de Nimes, a 50 quilômetros de distância dali.

A “estrada do ano”

Em nosso último dia teríamos que percorrer quase 400 quilômetros. Saímos bem cedo de Carcassone e da Provance seguimos para Perpignan, em direção ao mar. Já em território espanhol, perto de Figueres, deixamos a autoestrada rumo a Torroela de Montgri. A partir daí seriam mais de 100 quilômetros por estradas litorâneas. Desse todo, há um trecho de pouco mais de 20 quilômetros que é pura diversão: trata-se da rodovia Gi-682, que liga as cidades de San Feliu de Guixols a Tossa del Mar, uma rota cênica classificada entre as melhores da Costa Mediterrânea na lindíssima Costa Brava. Por possuir 365 curvas é chamada de “Estrada do Ano”. Isso mesmo – uma curva para cada dia do ano! Depois da última casa na saída de San Feliu, as curvas começam e só terminam na chegada a Tossa del Mar. As cores dessa cidade contrastam com o azul do Mediterrâneo – é bonita, badalada, mas também carrega muita história: a cidade fortificada – “Villa Vella Enciente” remete ao século XIV. A torre na parte mais alta guarda um farol que ainda está em operação, alertando aos marujos sobre os perigos ou, atraindo-os para as delícias do “Paraíso Azul”, tal como descrito pelo pintor Marc Chagall.

A moto

No início, viajar de moto “solo” em um outro país pode parecer assustador, mas os riscos podem ser minimizados com um bom planejamento: a escolha do equipamento deve considerar a confiabilidade e idoneidade da empresa locadora – alugamos da IMT Bike Barcelona uma BMW R 1200 GS Adventure 2016 – motocicleta confiável, extremamente confortável e com um tanque de combustível que atendeu com folga aos trechos diários planejados.

Dica: se possível, leve o GPS daqui já com o roteiro traçado. Lembre-se de que, tal como a moto, o funcionamento desse equipamento é fundamental para que a viagem seja prazerosa. Evite mapas “piratas” e simule roteiros por aqui para ter certeza de que não haverá surpresas (apesar de serem quase inevitáveis). Finalmente, para evitar encrencas, procure entender a legislação de trânsito dos países onde circulará – pedágios, regras de conduta e limites de velocidade.

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